Governo
do Estado do Mato Grosso
Secretaria
de Estado de Educação (Seduc-MT)
Escola
Estadual Zélia Costa de Almeida
Curso: Grupo de Estudos
ZCA – Construindo Novas Histórias
Prof. Esp. Luciano
Otahara Campos
Conteúdo: Vícios de Linguagem (teoria)
Vícios de linguagem, conforme Cegalla (2007, p.
634), são “incorreções e defeitos no uso da língua falada ou escrita.
Originam-se do descaso ou do despreparo linguístico de quem se expressa.”
Alguns professores pontuam, ainda, que qualquer desvio das normas gramaticais
pode ser considerado um vício de linguagem.
Dentre os vícios de linguagem, podemos destacar, de
acordo com Cegalla: ambiguidade, barbarismo, cacofonia ou cacófato,
estrangeirismo, hiato, colisão, eco, obscuridade, pleonasmo, solecismo,
preciosismo/rebuscamento, plebeísmo. Vejamos a caracterização de cada um deles
e alguns exemplos.
11. AMBIGUIDADE ou ANFIBOLOGIA: manifesta-se pela falta
de clareza contida no discurso (duplo sentido).
a) “Jacinto, vi a Célia passeando com sua irmã.” (sua: de quem?)
b) O ladrão matou o policial dentro de sua casa. (na casa do ladrão ou do
policial?)
c) O guarda conduziu a idosa para sua residência. (residência de quem? Dela ou do guarda?)
2. BARBARISMO: é o desvio da norma culta (emprego de palavras erradas) no que
diz respeito à pronúncia, à grafia, à semântica e à ortografia (cidadões por cidadãos; proporam por propuseram).
Ø Pronúncia
a) Silabada – refere-se ao deslocamento do acento tônico de uma determinada palavra
como, por exemplo:
No documento constata apenas a rúbrica
(em vez de rubrica) do comprador.
b) Cacoépia – configura-se como um erro na pronúncia dos fonemas, tal como no exemplo:
Esse é um probrema (em vez de
problema) que temos de resolver.
c) Cacografia – manifesta-se pelo desvio no que se refere à grafia ou flexão de uma
dada palavra:
Se o delegado detesse (em vez
de detivesse) todos os marginais,
haveria mais segurança.
Nós advinhamos (em vez de adivinhamos) que você viria.
Ø Morfologia
Se ele ir (em vez de fosse) conosco, gostaríamos bastante.
Ø Semântica
Os comprimentos (em vez de cumprimentos) foram destinados ao
vencedor do concurso.
Obs.: Todas as formas de estrangeirismo são consideradas, por diversos
autores, barbarismo. Cegalla, por exemplo, não é um deles. (Ex.: weekend em vez
de fim-de-semana.)
3. CACOFONIA ou CACÓFATO: consiste em criar um som desagradável pela união de duas ou mais
palavras no enunciado da frase.
Eu vi ela no
supermercado. (Correto: Eu a vi no supermercado.)
Beijou na boca dela.
(Correto: Beijou-a na boca.)
Vou-me já. (Correto: Já vou
embora.)
4. ESTRANGEIRISMO: refere-se ao emprego de palavras pertencentes a outros idiomas quando
já existe um termo equivalente na língua portuguesa. “Conforme a proveniência,
o estrangeirismo se denomina: galicismo ou francesismo (do francês), anglicismo
(do inglês), germanismo (do alemão), castelhanismo (do espanhol), italianismo
(do italiano)”
Comemoraremos seu aniversário em um happy hour (final
de tarde).
Como foi seu weekend?
(fim de semana)
Obs.: Alguns galicismos e anglicismos devem ser evitados. Ele cita
dentre vários exemplos: menu (por
cardápio) e apartheid (por
segregação racial)
5. HIATO:
aproximação de vogais idênticas.
Traga a água.
6. COLISÃO: sucessão
de sons consonantais idênticos ou semelhantes.
O rato roeu a roupa; viaja já; aqui caem cacos.
7. ECO: “concorrência
de palavras que têm a mesma terminação”.
A flor tem odor e frescor.
Obs.: O eco na prosa é considerado um vício, um defeito. Já na poesia é o fundamento da rima.
8. OBSCURIDADE: “sentido obscuro ou duvidoso decorrente do emaranhado da frase,
dá má
colocação das palavras, da impropriedade dos termos, da pontuação
defeituosa ou do estilo empolado” (pomposo).
9. PLEONASMO: “redundância, presença de palavras supérfluas na frase”, usado como
recurso intencional de estilo. Em outras palavras, trata-se da repetição de um
termo já expresso ou de uma ideia já sugerida, para fins de clareza. Ex.: Entrar para dentro; sair para fora. Outros exemplos comuns: panorama
geral; antecipar para antes; criar novos…
Pleonasmo vicioso
Diferentemente do pleonasmo contido nas figuras de construção ou
sintaxe, há o pleonasmo vicioso cuja característica se refere à repetição
desnecessária de uma ideia antes expressa:
Com o barulho estrondoso, imediatamente todos saíram para fora.
10. SOLECISMO: é o desvio em relação à sintaxe. Pode ser:
Ø De concordância
- Haviam pessoas. (o certo seria “havia”)
- Fazem dois meses. (o certo seria “faz”)
No caso, o erro ocorre no emprego do verbo “fazer”, que no sentido de
tempo decorrido é impessoal, fazendo com que a oração seja sem sujeito.
Portanto, o verbo não deve se flexionar para o plural, o correto seria: “Fazia
anos que não morriam pessoas”.
- Faltou muitos alunos. (o certo seria “faltaram”)
Ø De regência
- Obedeça o chefe. (o certo seria “ao chefe”)
- Assisti o filme. (o certo seria “ao filme”)
Ø De colocação
- Não espere-me. (o certo seria “Não me espere”)
- Me empresta o carro? (o certo seria “Empresta-me”)
11. PRECIOSISMO, REBUSCAMENTO: exagero da linguagem, afetação, linguagem artificial. Ex.: Na
pretérita centúria, meu progenitor presenciou o acasalamento do astro-rei com a
rainha da noite. (ou seja: No século passado, meu avô presenciou um eclipse solar.)
12. PLEBEÍSMO: “uso de palavras e expressões vulgares, de termos de gíria”. Vejamos
alguns exemplos citados: cara (indivíduo), troço (objeto, coisa), cuca
(cabeça), bacana, legal (bom), coroa (pessoa idosa), grana (dinheiro), entrar
pelo cano (sair-se mal), dentre outros.
13. ARCAÍSMOS: Uso de expressões que caíram em desuso.
Ex: Vossa Mercê (Você). Venho por meio desta solicitar (Solicito…).
14. GERUNDISMO: termo criado para designar a prática de utilizar o gerúndio (terminação
do verbo em ‘ndo’) em demasia no discurso. Exemplos:
Um minuto, que eu vou estar
verificando seu cadastro.
Vou estar transferindo sua ligação.
Desculpe, senhora, mas estamos
tendo que fazer tudo manualmente.
Vamos estar encaminhando sua solicitação.
Perceba que nos exemplos de uso incorreto do gerúndio há um excesso de formas
verbais, que é desnecessário:
IR + ESTAR + ENCAMINHAR (vou estar encaminhando) = ENCAMINHAREI
Observações:
1. O gerúndio é uma forma nominal do verbo constituída por um verbo
auxiliar + um verbo com a terminação NDO.
2. O gerúndio expressa uma ação em curso (contínua) ou uma ação
simultânea a outra, exprimindo a ideia de progressão indefinida, ou seja, não
se denota o final, a conclusão da ação. A questão é que ações como transferir,
aguardar, reservar etc. não necessitam da noção de continuidade que o gerúndio
expressa, já que são ações rápidas e pontuais. Pode-se então desprezar esta
noção, já que não é necessária, e utilizar o verbo na sua forma conjugada ou no
infinitivo.
3. Como usar corretamente o gerúndio sem virar um gerundismo?
- É correto usar o gerúndio quando se quer expressar uma ideia ou ação
que ocorre simultaneamente a outra, no passado ou no futuro: “Amanhã, quando
você estiver fazendo a apresentação, eu estarei realizando os meus exames.”
- É correto usar o gerúndio quando se quer expressar uma ação contínua
sem determinar a conclusão da mesma: “Eles foram caminhando pelas ruas sem
saber para onde ir.”
- É correto usar o gerúndio quando se quer expressar uma ação em curso,
em qualquer tempo verbal: “Amanhã neste horário, vou estar viajando de férias.”
/ “Não me ligue muito cedo, pois acho que ainda estarei dormindo.”
15. NEOLOGISMO: emprego de novas palavras que não foram incorporadas pelo idioma.
Vou deletar o arquivo que
recebi. (Correto: Vou apagar o
arquivo que recebi). Nesse caso, o verbo deletar, neologismo criado a partir da
palavra inglesa delete, está sendo
usado no lugar da palavra apagar,
existente na nossa língua.
Obs.: O neologismo não é considerado vício quando se cria uma palavra a
fim de nomear algo para o qual não há um vocábulo na língua. Como, por exemplo,
a palavra camelódromo, que é um lugar especial para reunir camelôs.
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Escola Estadual Zélia Costa de Almeida
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Estudos ZCA – Construindo Novas Histórias
Prof. Esp.
Luciano Otahara Campos
Conteúdo:
Vícios de Linguagem (atividades de sala)
1.
Indique
os vícios de linguagem que apresentam as frases abaixo.
a)
É
verdade, poeta, só nos sonhos a gente agarra a fada pelos cabelos.
b)
Muitos
cidadões ou não votam ou votam mau.
c)
Ah
fatalidade! As rugas da idade se instalam em minha face sem piedade e apagam o
frescor da mocidade.
d)
Fábio
quis conhecer o sítio de um tio de que o pai falava muito.
e)
Embora
doente, Tito teima em tomar café a todo instante.
f)
O Rio
está incluído na tournée organizada pela nova empresa de turismo.
g)
Eu ia
eufórico pela rua, ouvindo vozes que não me eram estranhas.
2.
Relacione
as frases aos vícios de linguagem que nelas ocorrem: (a) estrangeirismo
(b) pleonasmo (c) solecismo (d) preciosismo
__ Desde então
ele passou a nutrir uma inexplicável xenofobia aos estrangeiros.
__ Evolou-se
(exalar-se) aos paramos (céu) etéreos a alma imácula da donzela.
__ Foi impecável
a performance do piloto durante a dura competição.
__ Amanhã começa
as aulas nas escolas e há muitas salas onde falta carteiras.
3.
Leia
atentamente os textos abaixo e critique-os do ponto de vista do uso da
linguagem que eles apresentam.
Pronominais
Dê-me um cigarro
Diz a gramática
Do professor e do aluno
E do mulato sabido
Mas o bom negro e o bom branco
Da Nação Brasileira
Dizem todos os dias
Deixa disso camarada
Me dá um cigarro
Oswald de Andrade
Inútil
A gente não sabemos
Escolher presidente
A gente não sabemos
Tomar conta da gente
A gente não sabemos
Nem escovar os dente
Tem gringo pensando
Que nóis é indigente…
[...]
Ultraje a rigor
4.
Identifique
a alternativa em que ocorre um pleonasmo vicioso:
a)
A casa,
já não há quem a limpe.
b)
Para
abrir a embalagem, levante a alavanca para cima.
c)
Bondade
excessiva, não a tenho.
d)
N.D.A.
a)
Peguei
o ônibus correndo.
b)
Por
estar inconsciente, não entendi o que realmente quis dizer. Contudo,
possivelmente conversaremos depois.
c)
Aquele
ambiente é bastante aconchegante, que tal fazermos um happy-hour, ou talvez um
breakfast?
d)
Na
geladeira há sanduiches de mortandela, coloque-os na bandeija e sirva aos
convidados.
e)
Durante
o evento, não vi ela nem um instante.
f)
Suba lá
em cima e pegue as encomendas para mim.
6.
Qual
o vício de linguagem que se observa na frase: “Eu não vi ele faz muito tempo”.
a)
solecismo
b)
cacófato
c)
arcaísmo
d)
barbarismo
e)
colisão
7.
Sobre
os vícios de linguagem, relacione a segunda coluna com a primeira:
(a) barbarismo;
(b) solecismo;
(c) cacófato;
(d) redundância;
(e) ambiguidade.
( ) É
admirável a fé de meu tio;
( ) Não
teve dó: decapitou a cabeça do condenado;
( ) Faziam
anos que não morriam pessoas;
( )
Coitado do burro do meu irmão! Morreu.
( )
Intervi na briga por que sou intemerato (íntegro).
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